10.10.08

De mãos estendidas, urgentes, pedi amor
nesta rua a quem passou distraído
dentro de bolhas de ar. Apenas os morcegos
vieram pousar os dentes na minha solidão.

De oiro, telepatas de radar nocturno,
súbito sacodem o dorso enxugando a alegria
que ainda me restava. Dou-lhes o pretexto,
a mão, o pescoço lívido dos dias,

não a vida. Essa, mantenho longe do olhar
como de agulhas metálicas, indefinível tormento,
que possuo e que me possui. Só eu posso
massacrar-me, sentir a chuva ruindo sobre mim,

comer o sangue que me envolve e, a pulso,
sair vivo. Também já soube respirar como quem brinca
no coração da lama e nas vindimas
entre vespas diárias e bagas brancas de giz.