6.11.08

moratória

E se arrasarem Berlim as bombas trogloditas
de Neptuno e das harpias, sólidos hermafroditas,
e se puderem cantar no solo sagrado do inverno
o papa invicto e a orquestra psiquiátrica,
se me amarem o sangue e nas veias do futuro
irromper, feito de chuva e breu, o espírito metálico da língua
e no estertor da noite o batuque sociológico dos olhos
e as pálpebras grogues e a beleza diversificada
vierem, em cadeira de rodas, resumir a vida a uma unha
e fazer da vida o pontão de saltos, o exíguo balde,
a prancha de inverosímeis comentários, plausíveis
asas despenhadas na terra e no coração da lama,
serpente emplumada dos sonhos, dos medos espúrios,
então, dar-me-ei por vencido e, incógnito como uma nuvem,
estenderei o papel e retomarei escrevendo.