28.11.08

Descalço-me do teu olhar, frias são as pedras
recompostas lado a lado sob os pés errantes. Do frio
nascem os filhos das gemas mediáticas, o estilo
adverso em trajes de velório roxo, metais e cordas
para andamentos vários, sóis depostos, miradouros.
Assim nascemos um para o outro, sem nada para dar.
Ao telefone é sempre um excesso de tabus, totens proibidos,
a exibição idiossincrática de monossílabos,
e é tão útil evitar o surto de um tempo dividido
e seguir a bússola que nos leva ao caos.
Para quê este tempo de aplausos redundantes,
a eclética construção das músicas que não nos trazem
instantes do passado, mas que enxameiam
a imaginação e o desejo por detrás de orquestrações.
Para quê este sismo inabalável? Este istmo reprimido?
Os vírus hão-de restar, deuses de bolso, bonecos
adaptados ao gordo amor da vida, ingenuamente
vencerão longe do seu telurismo e, em pirâmide,
ceifarão a lógica impingida ao longo das estações.
Muros brancos para esquecer, o nosso caso inútil.
Meu amor lóio, quem queremos enganar? O vocativo
cego dos dedos aufere a graça da brisa,
os verbos esgotam-se no fim da língua, boca
que em sangue pedala até ao coração,
coração que te pertence, mas que, por tua culpa,
fechei de vez. Um dia hás-de passar
pelas ruas escuras deste sítio e nada,
nem um rosto, reconhecerás, nem uma sombra,
o tédio abstracto e engelhado das coisas vividas
ou o periódico silêncio (este mesmo silêncio) de um beijo.
O lema um por todos em vidro da Marinha arrastado
por éguas. Vindo detrás, os gritos roucos da turba.