3.2.09

Os meus melhores amigos são carcaças,
pele e osso, alvíssimos cabelos.
No mais fundo pesadelo retrocedem,
entopem como géisers,
e em belfas partituras de bonanças
tossem como se fosse a sua vez de ouvir.

Noutra dimensão, leiva impensável nos abarca.
Grifam, inaudíveis, a navalha,
inelutáveis mesmos, cabeças, nomes,
desenganos, no solo sujo jogam à má conduta.
Outras carnívoras indiferenças no teclado
atroz do mundo. Abrindo a porta ao tempo,
um rosto que sossegue e traga a este enredo
a roupa do tormento, quase seco.

Odeio o amor, mas gosto do teu esterno.
Raiz de uma excursão pelo mural do corpo
que desprende do papel o deserto preso.
É estranho esse silêncio intencional. Solícito,
à força, recusa a casa da rua e ainda se cala,
leve como uma alma, lembro-me, espraiado
no hospício redondo das pálpebras batendo.

Ao muro do seu ser levo o spray de um verso,
e tacteio, sinapse adentro, os templos obscuros
dos livros mais decentes. Ainda me engano
e troco esta burra inteligência por ouro fulgente
de pincel baixo, esborratado, dirigido a sicrano
ao cuidado do provedor das frases surpreendentes.
Invisível como o homem físico, corcovado,
em delongas espero o truque de ágeis dedos:
amigos macerados por iões e santos
puxam de um cigarro dizendo ao mesmo tempo,
já não morremos hoje, separamo-nos.