3.3.09

Tropecei. Logo me empregaram como exemplo.
A moral agitou-se em seu tugúrio abafado,
as fúrias cantaram meus defeitos e, no final,
houve coturno e lágrimas, um abraço de adeus
da minha vida anterior. Hoje, acordo
submergido em remela e dentífrico de ervas,
estrangulado por resumos mentais ineficientes
e pesadelos ásperos, lembrando-me de mim.
A manhã desponta na cozinha como outrora
ardiam por detrás das montanhas, incendiários,
os raios de sóis aflitivos. A doida consagração.

Sou uma região bombardeada
por memórias avulsas. Também os teus olhos velaram,
do cais erodido, o corpo espalmado na bruma.
Cada hora pinga lentamente na clepsidra,
o vidro zurze na cerveja que já não satisfaz,
só as palavras magníficas poderão apagar
os traços de espuma que não pude beber.
É ainda este parágrafo que reduz os passos
a uma estrada fictícia e que me faz querer estourar,
em delírios vãos, a boca afectuosa.

Atroz tudo isto, como o primeiro amor
da asa oblíqua, ou o surdo afago da cinza
nos pulmões do barro. Demasiado sério,
tudo demasiado feio para aguentar o paladar acre
dos planetas, o sal branco da selva.
Dou-me ao trabalho de errar, e nem por isso
me nega a natureza o seu remédio sem regresso.
E já não ganho para o susto. Pego em cadavéricos
pesos milenares, conjunções, versos,
reordenações de um universo lábil e doloso,
invisível, inclusivo, ridículo, impossível,
e remisturo. Coze alguns minutos.