10.3.10

Desculpa, tenho tido outro silêncio
a incomodar-me. As unhas empoeiradas,
o sótão do poema tão desarrumado.
Começo agora a ouvir-te. O dia
traz-me vontade de nuvens surdas,
de dentes partidos na areia.
Em pista de um erro histórico zarpamos
na ferida justa do verbo.
Arrumo o discurso após as sílabas
escutarem a cena invisível das árvores
e, frase a frase, ditarem as ínsuas.
Falar para as paredes reproduz
o vício de viver no inferno,
e tu e eu podemos arder infindos.
No colar dos pássaros amadurece o sol
e como nos faltasse, cai.
Só então nos tocamos. Ninguém
nos escuta, dinossauro algum.
Talvez o país da foda e da guitarra
a cantar no largo as ancas da panelinha
sorria, por nós, de tristeza.
Deponho, errática, a esferográfica;
o teu lívido amor morreu no mais estúpido
bucolismo.