18.11.11

Comecei a decorar alguns versos mais livres
depois dos trinta e cinco. Antes, a cegueira
iluminara de ardósias negras
a nuca peremptória. Por isso, nunca me aproximei
das imagens mais claras. Nos assuntos sociais,
na fortaleza sábia das matérias tristes,
percorri corredores inóspitos sem conhecer
realmente o quão solitário poderia ser
o aniversário seguinte. Recusei portanto
o pormenor de parecer vivo apenas no exterior
e mergulhei de alma na intransigência dos livros.
Narrativas fecundas hoje palpitantes,
sagazes desventuras em mares recônditos,
mares que são o próprio coração de um homem,
heróis, vilões, falaciosos seres de indubitável fibra,
sob todas as formas desceu sobre mim uma lição.
E no âmago da terra construí para mim um ninho
que foi, em última análise, um lar teatral.
Aqui aguardo o caudal que me vai levar ao fundo,
porque vim a ser um peixe e a minha condição
é acalmar o estômago azedo de uma sílaba.