20.4.12

Atravessei o tampo da mesa para te dar um beijo
como uma garça em estilhaços, em trânsito para a lua,
e o silêncio muito pouco nada incomodado com a situação.
E sempre assim nos morre a natureza: capaz de sofrer,
de se deitar da ponte como a beleza caduca das miniaturas
ou como quando um doido diz uma verdade e chamam-lhe paixão.
Agora não receio o amor desnatado, acordar de manhã
com hálito a rebuçado é uma veleidade tão pura
como encantar uma sereia com um prato de coral.
Que clangor ouvirei ao sentir as sístoles descompassadas?
Quantos gestos esfomeados terei mais de magicar
para sobreviver à matemática impiedosa da cornalina?
Vou observar as aves fora da janela, eu que me engaiolo
em ideias e pastas dentífricas de sabor fresco,
mas que no fim de contas tenho tanto frio que enlouqueço.
É relativo que te evoque a importância de um lábio
ou de um alfinete. Mas já viste que vesti ossos que não uso
há tanto tempo, o cadavérico arco-íris, a suprema tusa?