1.11.12



Esta tarde desci as ruas comunitárias,
dirigi a palavra a penúltimas pessoas:
ninguém pareceu compreender-me.
O sol projetou raios de solidão com uma eficácia
milenar. Mais em baixo, o rio conduzia retalhos
demenciais, lixo promissor, um embrião
talvez. Um glóbulo sonolento transportou
saúde e morte. Pensei: como são boas as perícias
que modificam o mundo.
Os automóveis gemeram numa consistência
efémera. Rápidas, as minhas pernas rasgaram
as pontes alagadiças.
Fiscalizei o vazio, esquadrinhei o vazio,
mas quando parei para respirar, a noite caiu.
Então, mais ninguém me viu gesticular
as frases incrédulas. De ambos os lados
as ruas apertaram-me. Senti-me só.
Constrangido. Poeira sem conteúdo.
Talvez um fantasma pudesse requisitar
os meus assombrosos ofícios.