10.4.13

UHF



Colocaste entre aspas o rumor selvagem da cidade.
À espera tinhas um lago sem água e um urso de peluche
que não te deixava pensar. Gregos que sabiam dialogar,
chamavam dialética ao sangue trocado de boca em boca,
no fim uma moral irrisória perduraria até nós.
No vigor linguístico dos dias afastámo-nos para nos encontrar
à beira do drama pífio de contas por ajustar, por pagar.
Fora destas leituras sentia-me decadente, não tinha mais nada
para te dar. Paris era um mito e trabalhar fora do país um recurso
difícil, inusitado, acho que não gostaria de acabar perdido.
Contigo seria algo feérico, teus cabelos lambidos pelo vento
junto ao rio e eu a dedilhar canções em apneia e mal
comportado. A cidade nunca poderia ser nossa,
um grego é um grego, alguém que deixou de pensar
por nós. Não discuto o quanto nos custou puxar 
o sentimento,
mas uma lágrima tua é o que chamaria de básico.
O futuro poderia começar quando quisesses.