3.4.14



Está bem, é para sempre, dá-me o teu carimbo.
Apresenta-me em powerpoint a chatice dos dias
concorridos, a sórdida solução das palavras.
Vou acreditar em tudo o que me dizes, tu

és quase tudo para mim. Às vezes és um míssil
que não me dá tempo para pensar na resposta.
Outras, é como se ficasses pendurada nas árvores
alimentada a papoilas e xanax, metempsicótica.

Se ao menos pudéssemos calcorrear o paredão no inverno
sem corrermos o risco de nos afundarmos no pó.
Se ao menos houvesse um fio que não quebrasse.

Pego nos pés, sou livre de dizer o que penso
embora muitas vezes tenha o cuidado de gritar
para que ninguém me perceba no meio do barulho.

31.3.14



Quanto mais escrevo, mais existo.
Quanto mais escrevo, mais tenho consciência de mim.
As pessoas têm tromboses e cancros
e vivem em grupos cada vez menores. Que nada lhes falte.
As pessoas evitam-se por incompetência
e quando interagem é como se provassem o sabor de um fruto.
Hoje há maneiras de conhecer tudo
e atingir o estado ótimo da solidão. Deus nos acuda.
Hoje há mais espaço do que nunca para a memória
mas o esquecimento apresenta uma eficácia alarmante.
A música é a minha musa.
A música é o meu perdão.
Quanto mais me ouço mais me quero levar a brincar.
Quanto mais te ouço mais longe fica a monotonia
e o dia nasce cada vez melhor e há borboletas por toda a parte.
Não faças o que te digo, faz precisamente o contrário.
Não faças o contrário do que te digo.
Se eu te prender os pulsos, não te quero fazer mal.
Se eu te fizer mal, expulsa-me de ti.