29.10.08

Em última hora aviso-te que embarquei nas folhas
e o que vejo são enigmas, acessórios de baixa magnitude,
embora eu saiba o quanto custa ficar à porta
enquanto o baile atravessa o nosso corpo através das paredes.
Preciosas horas todas, estas da vida que nos deram,
do tédio e da alegria, das sílabas de cada música dançando
contra o sono de uma criança, contra uma criança sem nome.
Podíamos ser ocos como as jangadas que partem
das ilhas fronteiriças. A onda e outra onda,
fotocópias de um embalo azul avistadas, à janela,
por pessoas de verdade, burgueses lúcidos, pequenas
luzes longínquas para um lobo solitário que abraçou a terra.

A alegria deplorável dos lábios, o envelope do sorriso ao luar
não evita outro comportamento que a habitual publicidade
do físico, das lâminas dentífricas, de uma qualquer sátira artística;
assino esta janela onde me escondo para me poderem ver.
Frágil como o vidro da noite, esqueço o poço da carne,
isto é, espero pelas mãos junto ao telégrafo, abocanho
a velocidade pneumática da espuma, não evito atingir o píncaro deste lume.
Metáfora que não insista na dor que dia a dia transportamos
nada resolve e às vezes, quando fábula, somente atrapalha, é vento
espalhando as palavras pela praça do comércio injusto, Outubro frio,
uma hora a menos de luz, a morrinha inundando as pálpebras.

Espero porém que consigas ilustrar o desajuste dos biorritmos
ao falares de amor. A sensação de que me regaram o íntimo
com vodka contrabandeado cresceu exponencialmente, é difícil
dispensar, está semeada como a côdea da ilusão nossa de cada dia.
Depois, toca o telefone. É um temporário a tentar sobreviver.