9.12.08

o primeiro degrau

O primeiro degrau pressente o pé que recusa
o compasso apressado das ruas. Todas as hóstias
consagram um ritmo que não quero chamar doloroso
mas que cicatriza a custo de pouca fé. Não falo
de ogres, de anjos, ninguém especial. De mim,
dobro do mal, ouvirás o que basta para pensar
pelos postigos, menos que a vida, condição
eléctrica que te acordará de um balouçar implausível.
Este clima burlesco faz-se de casas e de pessoas vivas,
tem excesso de liquidez, hás-de notar, no nó das viúvas
e no riso das velas, circunstância de ciência oculta.
O desejo é lúdico e o vento, tão selecto, está mais urgente
ou, impressão esta, está circunspecto e desanima
pelos dormitórios. Esquinas de mármore das mágoas minhas,
pórticos, óbitos, romeiros gestos. O tampo do modernismo
em dupla sinopse, o eterno retorno das estrelas
durante a noite e o sono eterno que gela como a neve.
Garroto um amigo, juro, pela última vez. O corpo expedicionário
que formei para me encontrar, perdeu-se, perdi-o.
Não resultou o truque das nuvens, a corda à cintura
dos cinco e dos sete, o espaço vagueia nas minhas mãos,
sinto-me um fantasma a atravessar paredes-mestras.
Na avenida lateral dão balões a quem provar possuir
paciência macroeconómica e prudência de perdedor.
Participar ilumina, dizem, patrocinados pelo município
e cinemas enfant terrible, em exibição há meio século
com planos cada vez mais americanos. É um submundo
interior, no qual sem consciência, sem ar, não mergulho.
Mas o pior já passou. Sabe bem regressar pouco a pouco.