14.3.12

Chegou e prendeu-se a todas as raízes,
a amnésia, o código mais vermelho.
Chovia contra a corrente. O problema prevaleceu
no papel mas em setembro eclipsou-se
como uma grua; os carros
por detrás da cortina, há uma década, martirizados.
Separou-nos a geada, um idílio. Os teus últimos
pensamentos ainda hoje me são estranhos.
Um beijo respondido com uma língua
podre, um gesto entre mil braços, apenas um ombro.
A vida a romper da terra como um zombi
frio.

Transformei-me então no espelho eficiente
do reflexo nítido. À superfície, nenhum amplexo.
Frases, somente frases, cerceando o gosto
da gente mais pueril, o afetado estilo
democrático do poder-escolher-da-prateleira.
(Mas isto vem de cima, é maior que o corpo,
um eletrodoméstico aceso toda a noite.)
O melhor que fiz foi esquecer, mágoa
a quatro tempos com sabor a óleo, até hoje.
Corro os dedos pela deformação total. Sinto
que o futuro já partiu.


Areia, ambulância que atravessa a noite.
Infância que se desfaz erro após erro,
inumeráveis nomes e sítios que olvidei.
O lugar que me pertence é um murro,
O nosso olhar é uma gruta. A memória dói,
o cheiro de uma palavra associa-nos
à lama. Na ilha dos amores transformámo-nos
em parcos. (Quanto custa uma afirmação gratuita?)
O segredo do esquecimento
é boreal, calça quarenta e três,
cabelo quase nenhum, conta casar e ter
três velhos. Escreve-te em maiúsculas.