10.4.12

Ensina-me a pensar para dentro de
mim. Estou desidratado como um velho
guardanapo. Conspícuos montes espreitam
por detrás dos murais, querem levar-me
a crer em lagartixas poderosas,
não me deixam negar qualquer paixão.
Tanto me exiges, sapos de engolir,
mais negros do que a noite, mais salgados
que a Nazaré distante. Queres, em público,
que tenha as mãos nos bolsos, que vacile
e acabe por errar a concordância
do verbo e do sujeito. Um equinócio
não podia ser pior destino que os teus dedos.
Não me deixas crescer em corpo, em mente,
tens-me na mão da forma mais grotesca.
E a pitoresca, arbórea, vã promessa
é um coração basbaque sem assunto
para a noite. Limito-me a olhar
o copo meio vazio, meio cheio de nada,
onde as dedadas de setembro quebram
em verdadeiro medo. A sempiterna
barca vai-te afastando das estrelas,
e sem luz já não vejo o que vem delas
e de ti. Pesadelos dos ourives,
cai na terra uma inútil nostalgia
que guardo para sempre num caixão.
Tu és fumo, somente fumo e caspa,
e nuvens ao redor de uma cabeça.
Já não levas a sério o amor, ensinas
paradoxos, o vidro já não chega
para diminuir o erro após o erro
após a regra. Já não pega
que sejas a medula do problema
e tornes permanente a incerteza
e a solidão, tão gorda, como as trevas.