31.1.11

A fome trabalha a cada instante,
quem tem fome merece todos os camiões.
Um vaso de urze e geleia posto sobre a mesa
onde aos cinco anos aguardava, porta entreaberta,
por umas calças de cinza que urdiam razões.
Os barcos vinham nadar a cada verão,
nascia uma sereia nos bancos de areia
cada vez que disparavam os pratos para o rio.
A fome é uma dor cinzenta, um estranho
apetite por sulcos abertos no sangue da fruta.
Depois da ceia o padre ardia em redor dos plátanos,
saltava o alecrim sobre os sumos e a fada dos dentes
era, como diziam, a origem de uma economia inexpugnável.
Mais tarde, como veríamos, haveria fome. Fome completa
e impossível de aplacar. Foi assim ficar adulto,
um estômago vazio.

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