25.10.08

musa? musa!

Dá-me, musa terna, erecção que dure
a narração, nesta interneta, do episódio
mais insólito do mundo: eis-me eu próprio
nascido minotouro, bulindo em labirintos,
faminto por um osso, descoroçoado, meu deus.
O odor fétido da secular merda, o tempo
que me resta à procura do espelho, lerda musa,
não os quero; pois já te vestes, fora a madrugada,
impinges-me chinesices e desapareces
bela como sempre, puta, como o milho,
ainda a tempo de servires um tropa ou dois.
Amo-te os modos de recusa, impossível ter-te
como um cão fiel; assim fico na cama, talvez fumando,
absorto, o incêndio habitual das parangonas
vespertinas; talvez tenhas fodido o jornalista,
talvez Platão paire sobre a praça e sobre as pombas
a morte se dedique finalmente aos anjos.
De resto, não mudo a tromba feia ao verso
por tua culpa, ó, cúmulo da literatura.

Sem comentários: