8.5.09

Dá-me para escrever, sabes, ao ouvido
do sol e dos velhos rituais do mar. Ir e vir
pelas ruas numa tarde quente em que o medo
está atento à televisão. Lavam-me as pálpebras e a língua
de paquiderme insípido, a luz, o movimento,
o movimento célere do dia, a inatingível vida.

Conto-te a minha história e chego ao fim
antes de morrer. Pareço-te agitado mas é a luz que toca
o meu pior perfil, e abstracta, me infunde lividez,
capaz de gestos difíceis de entender.
Alguém grita entre tantas pernas ignorantes:
o que tens a declarar? Em que lado te colocas?

São a granel as palavras, falso peso de areia
as encarece na terça-feira de cruz. Se as pago
ao adelo, devo utilizar mercadorias tão fungíveis?
Se me viciam devo magoar-me em pedras e fumo?
Antes pedir pelas ruas, mostrar todas as feridas,
fiel ao pôr-do-sol e livre como as doenças.

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