26.9.13



Entreguei-me a ti pelo prazer de desconhecer
quem nos quer de um modo ou de outro
do lado de cá. Os assuntos caducaram
nas agendas e das lapiseiras azuis
soprou um nevoeiro recôndito, estranho, incompleto.
É o costume que regressa ao âmago das cidades,
a natureza que desbrava as ruas negras
com suas mãos conspícuas e inolvidáveis.
Tu eras uma espécie de cansaço e o lugar
onde o repouso fazia mais sentido. Eras
o sol e o seu avesso, a coca-cola lenta
da manhã das ressacas bestiais, o armário
desarrumado pelo vento de muitos dias.
Deste-me então o protesto, hoje não sei outra forma
de rezar contra a amargura, deste-me
uma coisa divina para usar em todos os silêncios.
Para mim tu eras a vida, o recreio
alegre do infantário de fora do qual eu sonhava
ser a criança adulta magoada nos nós dos dedos.
E olha, ainda me dói o futuro do passado,
esse tempo verbal que tu não me vais deixar aprender.

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