27.9.13




Black Sun

Sentia-me felizardo pela melancolia quente da tarde,
supunha que seria assim que deus se maquilhava
à frente do espelho magistral do mundo. Os campos,
atravessados pela música lisa dos insetos, vibravam
como se um deus térreo estivesse ligado à rede elétrica.
Era a disciplina vegetal que me chamava a eles,
consciente da inconstância dos elementos, mas não parecia
que o planeta viajasse a velocidades tão alucinantes.
Pensava na última vez que planara nos teus olhos
um lampejo de doçura. Teria sido há mil anos, ainda
o povo e o clero andavam de mãos dadas, manietados
pela doença e na eternidade. Esse fogo lento onde me queimei
desceu à minha solidão para me proporcionar tristezas.
No entanto, a tarde mencionada era total, furibunda,
esmagadora. E no céu, de súbito, surgiu um sol enegrecido
que me lançou à terra. Algum pequeno deus indignado
querendo regressar apodreceu o azul. Nunca faças conversa
com um deus convencido que deve ser amado.

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